À BEIRA DO COLAPSO
EIS O QUE DISSE O VELHO, sábio e céptico Solomon Kahn: «A humanidade devorou num século todos os recursos mundiais, que tinham levado milhões de anos a acumular, e nenhum dirigente ligou meia ou deu ouvidos a todas as vozes que tentaram avisá-los. Limitaram-se a deixar-nos produzir em excesso e consumir em excesso, até que agora o petróleo se foi, a terra fértil esgotou-se e desapareceu, as árvores foram derrubadas e os animais extintos. O planeta está envenenado e tudo o que temos em troca disso são sete milhares de milhões de seres humanos a lutar pelas migalhas que restam, vivendo uma existência miserável». Disse mais o velho Solomon: «Houve uma altura em que tivemos o mundo inteiro nas mãos, mas devorámos e queimámos tudo e agora acabou-se».
Este é o cenário aterrador de uma novela de ficção científica, Make Room! Make Room!, escrita em 1966 por Harry Harrison, que com ela conquistou o Prémio Nébula, e na qual livremente se inspirou Richard Fleischer para realizar, em 1973, o filme Soylent Green, ainda mais impressionante, pessimista e trágico do que a própria novela. Esta só foi editada em Portugal em 1986, pela Caminho, com o mesmo título atribuído ao filme: À Beira do Fim. Voltei agora a ler a novela e recordo o filme como se o visse hoje.
Numa megalópole com 35 milhões de habitantes, a esmagadora maioria vive ao relento, ou nas catacumbas de um metropolitano que já não funciona, ou em carcaças de automóveis abandonados em parques de estacionamento inúteis, ou em navios corroídos pela ferrugem e atracados há muito nos cais - uma shiptown. Falta a água e os alimentos escasseiam, tudo é racionado, mesmo certos produtos sintéticos de origem misteriosa que são distribuídos como substitutos dos alimentos naturais. No filme, é a descoberta desse mistério que levará Solomon Kahn a desistir de viver e a submeter-se à eutanásia, numa clínica onde morre a ouvir uma sinfonia de Beethoven e a contemplar as imagens filmadas de um mundo que ele ainda conheceu, mas que já desapareceu há muito.
Infelizmente, não é grande a distância que separa ficção e realidade. Se o futuro é relativamente imprevisível, o passado está cheio de exemplos de civilizações que não resistiram ao seu esplendor, entrando em declínio e queda irreversíveis, até à extinção. São os processos dessa extinção – sobretudo a tragédia da Ilha da Páscoa, a decadência e o fim do Chaco, o esgotamento e queda da civilização Maya, o desaparecimento dos Vikings na Gronelândia – que nos relata o historiador e cientista norte-americano Jared Diamond, num extraordinário ensaio intitulado Collapse. Recursos naturais explorados até à exaustão, alterações climáticas, destruição do meio ambiente, guerras, secas, fome e incapacidade de adaptação à mudança causaram verdadeiros ecocídios. Também vale a pena ler outro ensaio de Jared Diamond, já editado em Portugal pela Relógio d’Água: Armas, Germes e Aço, sobre os destinos das sociedades humanas. Se não aprendermos as lições, a ficção poderá tornar-se realidade e poderemos estar à beira do colapso.
Este é o cenário aterrador de uma novela de ficção científica, Make Room! Make Room!, escrita em 1966 por Harry Harrison, que com ela conquistou o Prémio Nébula, e na qual livremente se inspirou Richard Fleischer para realizar, em 1973, o filme Soylent Green, ainda mais impressionante, pessimista e trágico do que a própria novela. Esta só foi editada em Portugal em 1986, pela Caminho, com o mesmo título atribuído ao filme: À Beira do Fim. Voltei agora a ler a novela e recordo o filme como se o visse hoje.
Numa megalópole com 35 milhões de habitantes, a esmagadora maioria vive ao relento, ou nas catacumbas de um metropolitano que já não funciona, ou em carcaças de automóveis abandonados em parques de estacionamento inúteis, ou em navios corroídos pela ferrugem e atracados há muito nos cais - uma shiptown. Falta a água e os alimentos escasseiam, tudo é racionado, mesmo certos produtos sintéticos de origem misteriosa que são distribuídos como substitutos dos alimentos naturais. No filme, é a descoberta desse mistério que levará Solomon Kahn a desistir de viver e a submeter-se à eutanásia, numa clínica onde morre a ouvir uma sinfonia de Beethoven e a contemplar as imagens filmadas de um mundo que ele ainda conheceu, mas que já desapareceu há muito.
Infelizmente, não é grande a distância que separa ficção e realidade. Se o futuro é relativamente imprevisível, o passado está cheio de exemplos de civilizações que não resistiram ao seu esplendor, entrando em declínio e queda irreversíveis, até à extinção. São os processos dessa extinção – sobretudo a tragédia da Ilha da Páscoa, a decadência e o fim do Chaco, o esgotamento e queda da civilização Maya, o desaparecimento dos Vikings na Gronelândia – que nos relata o historiador e cientista norte-americano Jared Diamond, num extraordinário ensaio intitulado Collapse. Recursos naturais explorados até à exaustão, alterações climáticas, destruição do meio ambiente, guerras, secas, fome e incapacidade de adaptação à mudança causaram verdadeiros ecocídios. Também vale a pena ler outro ensaio de Jared Diamond, já editado em Portugal pela Relógio d’Água: Armas, Germes e Aço, sobre os destinos das sociedades humanas. Se não aprendermos as lições, a ficção poderá tornar-se realidade e poderemos estar à beira do colapso.
«DN» - 22 Set 06
http://sorumbatico.blogspot.com/2006/09/beira-do-colapso.html
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