Lições de uma derrota
QUANDO QUEREMOS PARECER-NOS de tal modo com os nossos adversários políticos que nos confundimos com eles, é certo e sabido que, mais cedo ou mais tarde, os eleitores que nos contemplam acabam por preferir os originais às imitações, ou, pura e simplesmente, repudiam os originais e as cópias, por indecente e má figura, optando pelos extremos.
A maioria dos partidos socialistas, social-democratas e trabalhistas europeus quis de tal forma identificar-se com a economia liberal de mercado e o turbocapitalismo financeiro, para se afastar das ruínas do comunismo soviético e repudiar os estigmas da extrema-esquerda, que, às tantas e sem dar por isso, já tinha ultrapassado pela direita muitos partidos conservadores, democratas-cristãos e liberais, embrenhando-se paulatinamente na selva de um mercado totalmente desregulado e completamente à deriva.
Esta é uma das boas explicações para se perceber o descrédito de muitos partidos social-democratas, socialistas e trabalhistas, que, ao contrário do que seria de esperar deles, não conseguiram emergir desta grande recessão, desta crise brutal do turbocapitalismo financeiro, como a alternativa mais óbvia e mais credível ao capitalismo ultraliberal defendido e praticado pelos partidos de direita nos últimos trinta anos.
Pior ainda: o «regresso do Estado» foi orquestrado, por razões meramente oportunistas, precisamente por aqueles partidos da direita ultraliberal que mais o torpedearam e que mais fragilizaram os seus alicerces, com a conivência imbecil da social-democracia europeia, cujo excesso de zelo a fez ignorar os mais fracos e mais desfavorecidos.
Será desta que os eleitores da esquerda democrática conseguirão correr de vez com os Blair, os Brown, os Zapateros e os Sócrates do nosso descontentamento, neste terrível inverno do socialismo democrático, outrora de rosto humano?! A resposta não é fácil, quando a social-democracia perde por falta de comparência e de convicções, deixando o terreno livre para a ascensão da demagogia, do populismo e do oportunismo de direita.