terça-feira, 19 de julho de 2011

A TINA E O ‘TITTYTAINMENT’

Por Ludovico Agrícola (*)

TINA, você conhece (perguntou-me BMW)? Não, não é a Tina Turner! É a frase “There Is No Alternative” (não há alternativa), atribuída a Margaret Thatcher, e que se tornou refrão, slogan e símbolo da vulgata económica neoliberal. É o dogma na origem desta grande crise e dos programas de austeridade selvagens feitos à medida do célebre “Consenso de Washington”, impostos à bruta pelo FMI em todo o mundo e pelo BCE numa União Europeia desunida que não passa de um imenso mercado.

E “Tittytainment”, sabe o que é? Eu digo-lhe: é um curioso neologismo criado por Zbigniew Brzezinski a partir das palavras “entertainment” (entretenimento) e “tits” (tetas em calão americano). Não, não é um convite ao sexo, mas sim ao entretenimento embrutecedor (tv sobretudo) e a uma alimentação suficiente (metáfora das tetas que dão leite), com o propósito de manter a boa disposição da população frustrada deste planeta globalizado. Isto porque se espera que, neste século, “duas décimas da população activa cheguem para manter a actividade da economia mundial”. O que fazer, então, das oito décimas restantes, para evitar o dilema “to have lunch or be lunch” (ter de comer ou ser comido)? Pois, recorrer ao “Tittytainment”, para que todos os excluídos se mantenham tranquilos. “Pão e circo”, em suma, como na antiga Roma Imperial…

Esta é a nova ordem social que os poderosos desejam impor-nos: um universo de países ricos sem classe média digna desse nome. Está agora a acontecer e foi previsto há 15 anos num livro escrito por dois jornalistas da revista alemã “Der Spiegel”, Hans-Peter Martin e Harald Schumann: “A armadilha da mundialização. A agressão contra a democracia e a prosperidade”. Vale a pena reler (aconselha o nosso “garganta funda”). A receita é sempre a mesma: diminuir as despesas do Estado, baixar os salários, cortar nas prestações sociais, nos abonos de família, nos subsídios de férias, de desemprego e de doença, segundo um modelo de austeridade rígido, acompanhado de privatizações e desmantelamento sistemático do Estado. Então e o “Tittytainment”?

Calma, uma coisa de cada vez! Agora estamos em depressão (em sentido amplo, diz BMW) e a depressão é uma pré-condição da prosperidade, tal como a prosperidade há-de conduzir-nos outra vez à depressão. São os altos e baixos de um sistema em crise permanente. Os economistas neoliberais ao serviço do FMI e das grandes empresas (que ‘oficiam’ na televisão sem fazerem qualquer declaração de interesses e apresentando-se como meros técnicos de alto coturno) não sabem nem querem raciocinar de outro modo: “There Is No Alternative”. TINA é a grande paixão! Impressiona-me a quantidade de economistas reaccionários formados pelo vosso ISEG, que se orgulham das estadias no (e do) FMI e se encostam aos partidos políticos que alternam no poder!

BMW está indignado. Foram vãos os esforços para atenuar as brutais medidas de austeridade, contraditórias e insensatas do ponto de vista económico: como crescer com políticas recessivas? Culpa dos credores, que querem vergar à viva força os devedores. É estupidez rematada, mas o FMI e o BCE só têm olhos para os credores!

«Expresso» de 28/Maio/2011

(*) Ludovico Agrícola é um pseudónimo de Alfredo Barroso

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