terça-feira, 19 de julho de 2011

BRIGADEIROS E PAPAGAIOS

Por Ludovico Agrícola (*)

HÁ EM PORTUGAL, caro doutor Bretton Woods, vários políticos que ambicionavam chegar a generais, mas nunca passaram de brigadeiros. E agora vingam-se, sempre que lhes dão a oportunidade, fazendo a vida negra a outros políticos, normalmente os seus próprios líderes. A cada um desses brigadeiros sempre faltou, como diria um portuense, uma “agucinha” na cabeça para afiar o lápis da perspicácia política.

Tais brigadeiros com um apara-lápis a menos pululam no PPD, mas também os há, embora mais raros, no PS (os coronéis não são para aqui chamados). O mais famoso da actualidade, o brigadeiro Catroga, ainda foi de férias para o Brasil, mas regressou a tempo de disparar o seu bacamarte contra o Serviço Nacional de Saúde. Não lhe ficou atrás, e ainda fez pior, a brigadeira Ferreira Leite, ao deixar bem claro num comício que não estava ali a apoiar Passos Coelho para PM, mas sim a lutar para remover Sócrates do cargo. Toda ela a destilar ódio e ressentimento, Ferreira Leite foi ainda mais longe, reclamando que Sócrates também seja removido da oposição.

Ora, foi precisamente da oposição que o removeu o brigadeiro Almeida Santos, presidente do PS, no seu inimitável estilo de orador de banquetes. Numa entrevista ao semanário Sol, diz ele às tantas, com a subtileza de um tijolo, que “talvez o afastamento dele (Sócrates) simplifique nessa altura (quando o PS perder as eleições) uma solução nacional”. Aliás, Sócrates “vai sair disto cansadíssimo, estafado e também precisa de repousar”. Pior era impossível. Ferreira Leite deve ter exultado. E Sócrates bem pode exclamar, encarando o presidente do PS: “Também tu, Santos?!”.

Pois é, meu caro Ludovico (atalhou o doutor Bretton Woods), esses brigadeiros são delicados como picaretas! Mas, enquanto eles não se reformam definitivamente, é preciso reformar Portugal. Nestas curtas férias em Colares estive a reler o Eça, e já ele, em Maio de 1871, falava do partido reformista – “um estafermo austero, pesado, de voz possante” – e da “imensa impressão que causava nos moços de fretes”. Dava sempre a mesma resposta a todas as perguntas que lhe faziam. Inclusive quando lhe perguntavam as horas ou se gostava mais do papá ou da mamã, ele respondia: “Economias!”. E Eça concluía dizendo que o partido reformista era “o papagaio do Constitucionalismo”. Tal como o que agora aí vem será o papagaio da troika FMI-BCE-UE!

Na campanha eleitoral (rematou BMW) o memorando da troika foi tratado como se fosse um texto letal: quem o lesse morreria a chorar. Já na famosa anedota dos Monty Python, usada em 1944 na ofensiva das Ardenas, os soldados alemães morriam a rir ao lerem “a piada mais engraçada do mundo”. A vossa dúvida, daqui a meses, será saber se o papagaio no poleiro estará morto ou a repousar (como no sketch do Papagaio Azul dos Monty Python). É uma dúvida dilacerante! Como executar um programa neoliberal que não arrase um país em poucos meses? Os gregos já devem saber.

«Expresso» de 03/Junho/2011

(*) Ludovico Agrícola é um pseudónimo de Alfredo Barroso

Sem comentários: