O Milagre Segundo Evaristo
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A PRETEXTO DA CRISE, já toda a gente dá de barato qualquer milagre que a Santa Madre Igreja lhe queira impingir. Ninguém protesta, ninguém se escandaliza, mesmo quando é óbvio que ali há falcatrua. Tal é a resignação que nos consome.
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Todavia, o milagre que aconteceu a Dª. Guilhermina de Jesus em Ourém, por via do qual D. Nuno Álvares Pereira passará a ser santo, até podia ser um excelente pretexto para elaborar uma versão lusitana do Miguel Strogoff de Júlio Verne, se alguma das nossas estrelas da literatura light pegasse no assunto e o transformasse num best seller de vão de escada, copiosamente besuntado de óleo de fritar peixe.
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É verdade que o assunto é excessivamente prosaico. A imagem de óleo a ferver a saltar numa frigideira de fritar peixe e que salpica um olho de Dª. Guilhermina de Jesus, não encoraja os nossos génios da literatura pop a colaborar na edificação de uma tão grande falcatrua. Ainda por cima, consta que o filho da miraculada, Carlos Evaristo de seu nome, detém o exclusivo da história. Foi a ele que Dª Guilhermina comunicou o milagre em primeira mão, depois de ter ligado a televisão para confirmar se aquele olho porventura também já conseguiria ver as telenovelas da TVI. «O meu santo curou-me» - exclamou ela. E Carlos Evaristo chamou-lhe um figo. Era dele o exclusivo. E passou a ser ele a contar a história do milagre, em nome de sua mãe.
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O santo, como já bem sabemos, é o nosso Condestável D. Nuno Álvares Pereira, cujo espectro terá sido incomodado na noite de 7 para 8 de Dezembro de 2000 (o ano da beatificação dos pastorinhos, já repararam?!) por Dª. Guilhermina de Jesus, que o terá desafiado a demonstrar que era muito mais competente do que qualquer oftalmologista lusitano. E o espectro não se fez rogado, curando Dª. Guilhermina num abrir e fechar de olhos (talvez a inversa seja mais verdadeira, neste caso).
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Convém esclarecer que isto de milagres é como as bolhas especulativas na alta finança, que levam o seu tempo a inchar até rebentarem com grande estrondo nos bolsos dos cidadãos e, sobretudo, nos balcões do BPN e do BPP.
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Note-se que só agora, nove anos depois do pretenso milagre que curou um olho de Dª. Guilhermina na noite de Ourém, é que a bolha canónica, que então se formou e começou a inchar, finalmente rebentou, qual gigantesco salpico de óleo de fritar peixe, na cabeça de milhares de crentes. Com manifesta vantagem para a Santa Madre Igreja, para a Pátria e para a República, dado que o Presidente Cavaco Silva não hesitou em conceder o aval do Estado à canonização (tal como o Governo não hesitou em conceder o aval do Estado ao BPN e ao BPP).
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Em suma, tendo em conta que D. Nuno Álvares Pereira se finou no século XV, bem se poderá dizer que, do alto de uma frigideira com óleo a ferver, quase seis séculos de História pátria contemplam Dª. Guilhermina de Jesus, a miraculada que já tem garantido nos manuais escolares uma nota de rodapé tão grande como um salpico de óleo.
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Este é o milagre segundo Evaristo, e eu pergunto: há alguma seriedade nisto?
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Todavia, o milagre que aconteceu a Dª. Guilhermina de Jesus em Ourém, por via do qual D. Nuno Álvares Pereira passará a ser santo, até podia ser um excelente pretexto para elaborar uma versão lusitana do Miguel Strogoff de Júlio Verne, se alguma das nossas estrelas da literatura light pegasse no assunto e o transformasse num best seller de vão de escada, copiosamente besuntado de óleo de fritar peixe.
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É verdade que o assunto é excessivamente prosaico. A imagem de óleo a ferver a saltar numa frigideira de fritar peixe e que salpica um olho de Dª. Guilhermina de Jesus, não encoraja os nossos génios da literatura pop a colaborar na edificação de uma tão grande falcatrua. Ainda por cima, consta que o filho da miraculada, Carlos Evaristo de seu nome, detém o exclusivo da história. Foi a ele que Dª Guilhermina comunicou o milagre em primeira mão, depois de ter ligado a televisão para confirmar se aquele olho porventura também já conseguiria ver as telenovelas da TVI. «O meu santo curou-me» - exclamou ela. E Carlos Evaristo chamou-lhe um figo. Era dele o exclusivo. E passou a ser ele a contar a história do milagre, em nome de sua mãe.
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O santo, como já bem sabemos, é o nosso Condestável D. Nuno Álvares Pereira, cujo espectro terá sido incomodado na noite de 7 para 8 de Dezembro de 2000 (o ano da beatificação dos pastorinhos, já repararam?!) por Dª. Guilhermina de Jesus, que o terá desafiado a demonstrar que era muito mais competente do que qualquer oftalmologista lusitano. E o espectro não se fez rogado, curando Dª. Guilhermina num abrir e fechar de olhos (talvez a inversa seja mais verdadeira, neste caso).
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Convém esclarecer que isto de milagres é como as bolhas especulativas na alta finança, que levam o seu tempo a inchar até rebentarem com grande estrondo nos bolsos dos cidadãos e, sobretudo, nos balcões do BPN e do BPP.
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Note-se que só agora, nove anos depois do pretenso milagre que curou um olho de Dª. Guilhermina na noite de Ourém, é que a bolha canónica, que então se formou e começou a inchar, finalmente rebentou, qual gigantesco salpico de óleo de fritar peixe, na cabeça de milhares de crentes. Com manifesta vantagem para a Santa Madre Igreja, para a Pátria e para a República, dado que o Presidente Cavaco Silva não hesitou em conceder o aval do Estado à canonização (tal como o Governo não hesitou em conceder o aval do Estado ao BPN e ao BPP).
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Em suma, tendo em conta que D. Nuno Álvares Pereira se finou no século XV, bem se poderá dizer que, do alto de uma frigideira com óleo a ferver, quase seis séculos de História pátria contemplam Dª. Guilhermina de Jesus, a miraculada que já tem garantido nos manuais escolares uma nota de rodapé tão grande como um salpico de óleo.
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Este é o milagre segundo Evaristo, e eu pergunto: há alguma seriedade nisto?
1 comentário:
A que propósito há-de haver aval de um estado laico para um acto de carácter religioso que instrumentaliza uma figura nacional ?
Mais que aval deveria haver repúdio, como aconteceu em 1942 quando foi recusada a proposta de canonização então feita pelo Vaticano.
Cordialmente
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