sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Corrupção – sempre mais

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DEPOIS DE LER o que revelam vários jornais sobre a dimensão da «rede tentacular» alegadamente montada por um sucateiro multimilionário, para conseguir ser favorecido na adjudicação dos «negócios» que o enriquecem, sou levado a concluir que, apesar da idade que tenho, continuo a ser demasiado ingénuo: ainda me escandalizo e surpreendo com as proporções que podem atingir a venalidade e a corrupção de certos políticos de meia-tigela e de certos empresários de alto coturno, cuja promiscuidade repugna.

Claro que são todos inocentes até se provar (e se se provar) o contrário. Mas, se partirmos do princípio de que a PJ e o MP não andam a urdir conspirações e cabalas de tal dimensão e tanto detalhe, confirma-se a ideia de que a ganância não tem limites, isto é: quem tudo vai tendo e obtendo, nunca estará satisfeito e há-de querer sempre mais.

(A foto é a que ilustra a notícia, no Público online).

domingo, 18 de outubro de 2009

A «exuberância irracional» está de volta

O JORNAL 24 HORAS noticiava dia 17, em primeira página, que três dos magnatas mais ricos de Portugal já recuperaram boa parte das fortunas que terão perdido com o crash mundial provocado pela falência do Lehman Brothers, em Setembro de 2008.

As quantias obscenas que esses multimilionários lusitanos recuperaram, em meia dúzia de meses de subidas consecutivas na bolsa, e sem levantarem os seus riquíssimos rabos das cadeiras do poder económico e financeiro que detêm, reflectem bem o clima de euforia que voltou a instalar-se artificialmente, com o súbito regresso dos mercados financeiros à «exuberância irracional» de que falava Alan Greenspan há poucos anos.

Poucos dias antes, a 14, em Wall Street, já o índice Dow Jones tinha quebrado a «barreira psicológica» dos 10.000 pontos, confirmando que está a afluir, de novo, muito dinheiro às bolsas de todo o mundo. Dinheiro esse que, infelizmente, não significa mais investimento produtivo criador de empregos e gerador de rendimentos. Pelo contrário, é dinheiro que se destina a inflacionar artificiosamente o valor dos activos já existentes e que apenas aumenta a riqueza de quem possui e de quem transacciona esses activos.

A revista Visão também noticiava há poucos dias que, «desde o início de 2009, o principal índice da Bolsa de Lisboa já subiu quase 40 % e, em relação a Março, quando bateu no fundo, os ganhos elevam-se a cerca de 55 por cento». Será que os milionários portugueses que estão a recuperar o que perderam vão investir na criação de empregos? Será que um desses milionários vai readmitir os 193 trabalhadores que já despediu?

O regresso da especulação financeira desenfreada, que esteve na origem da crise brutal que ainda estamos a atravessar em todo o mundo, significa que o «capitalismo de casino» está de volta. E o mais escandaloso é que foram gastos milhares de milhões em dinheiros públicos, não só para voltar a estimular a economia, mas também para evitar a bancarrota de inúmeras instituições financeiras privadas. E aquilo a que estamos agora a assistir é uma vergonha: enquanto as grandes fortunas, produto da especulação bolsista, estão a reconstituir-se rapidamente, o desemprego continua a crescer em todo o lado.

O G-20 aprovou uma óptima agenda reformista, mas a verdade é que tarda em reformar as grandes instituições financeiras internacionais e em impor novas regras que permitam um regulação mais rigorosa e eficaz dos fluxos financeiros a nível mundial. Quando acordar será tarde. A exuberância irracional já tomou conta disto outra vez.

sábado, 10 de outubro de 2009

Nobel da Paz, um equívoco lamentável

ATRIBUIR O PRÉMIO NOBEL da Paz a um presidente dos EUA, Barak Obama, que aposta na intensificação da guerra no Afeganistão, é tão contraditório como atribuir esse mesmo prémio ao anterior Presidente dos EUA, George W. Bush, por ter invadido o Iraque com o pretexto de alcançar a Paz no Mundo.

Nunca compreendi que o Nobel da Paz tivesse sido atribuído anteriormente a um «Senhor da Guerra» como Henry Kissinger, pelo facto de este ter negociado a paz num Vietname arrasado pelos tapetes de bombas «made in USA». Sobretudo, tratando-se de um dos políticos mais cínicos que alguma vez exerceram o poder em Washington – e politicamente responsável pelo golpe de Estado de Pinochet no Chile.

Tenho admiração por Barak Obama e regozijei-me com a sua vitória sobre John McCain. Mas sempre achei um erro que ele tivesse apostado na intensificação da guerra no Afeganistão, como compensação para uma retirada, muito duvidosa, do Iraque. Foi como se tivesse dado razão a George W. Bush, quando este sustentou que, para lutar contra o terrorismo, era preciso fazer a guerra, ao preço de muitos milhares de mortos.

Ao atribuir o Prémio Nobel da Paz a um Presidente que aposta na intensificação de uma guerra inútil e perigosa para a paz no Mundo, o comité norueguês que atribui o prémio cravou mais alguns pregos no caixão de um Nobel desacreditado. Uma coisa é a Paz no Mundo, outra é a perigosa «Pax Americana». Eis o lamentável equívoco.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Manuela, a Fatalista

MANUELA FERREIRA LEITE continua a fazer tristes figuras. É uma pobre líder sem rumo e sem futuro. Está a afogar-se politicamente e quer arrastar consigo para o fundo todos aqueles que, na opinião dela, terão contribuído para o naufrágio da sua liderança política: quer os seus adversários fora do partido, que ela trata como sinistros inimigos; quer os seus adversários dentro do partido, que ela gostaria de mutilar politicamente. A sua fraca coroa de glória, antes de regressar ao anonimato político, seria a instabilidade e a ingovernabilidade do país. E, já agora, o caos dentro do seu próprio partido.

Manuela Ferreira Leite tornou-se um dos exemplos políticos mais ilustrativos do famoso Princípio de Peter, ao ultrapassar vertiginosamente o seu nível de competência desde que foi eleita presidente do PSD. Seria difícil imaginar a eleição de uma pessoa simultaneamente tão arrogante, incompetente, insensata, tacanha, mesquinha, vingativa e ultramontana como esta senhora politicamente disléxica e adepta do bota-abaixo.

Falta-lhe um mínimo de sensatez e de grandeza que lhe permita contribuir para a governabilidade do país. Perante o quadro político tão complexo resultante das eleições legislativas, e apesar de ter sido claramente derrotada, a senhora continua a destilar ódio contra o seu principal adversário, desejosa de lhe erguer obstáculos e de lhe fazer a vida negra. Sem desdenhar, sequer, a prestimosa ajuda que BE e PCP lhe queiram dar.

O que terá sucedido à direita portuguesa supostamente mais moderada, que não conseguiu nada melhor do que eleger Cavaco Silva Presidente da República e Manuela Ferreira Leite presidente do PSD? Prisioneiro das suas obsessões, Cavaco Silva tornou-se patético. Embriagada pelo seu discurso fatalista, Manuela Ferreira Leite tornou-se fatal para a direita. Assim, não é de espantar que Paulo Portas, politicamente mais hábil e competente, se disponha a recolher os cacos para os colar à sua maneira, à medida que a presidente do PSD se for desvanecendo e este partido for mergulhando no caos.