O JORNAL 24 HORAS noticiava dia 17, em primeira página, que três dos magnatas mais ricos de Portugal já recuperaram boa parte das fortunas que terão perdido com o crash mundial provocado pela falência do Lehman Brothers, em Setembro de 2008.
As quantias obscenas que esses multimilionários lusitanos recuperaram, em meia dúzia de meses de subidas consecutivas na bolsa, e sem levantarem os seus riquíssimos rabos das cadeiras do poder económico e financeiro que detêm, reflectem bem o clima de euforia que voltou a instalar-se artificialmente, com o súbito regresso dos mercados financeiros à «exuberância irracional» de que falava Alan Greenspan há poucos anos.
Poucos dias antes, a 14, em Wall Street, já o índice Dow Jones tinha quebrado a «barreira psicológica» dos 10.000 pontos, confirmando que está a afluir, de novo, muito dinheiro às bolsas de todo o mundo. Dinheiro esse que, infelizmente, não significa mais investimento produtivo criador de empregos e gerador de rendimentos. Pelo contrário, é dinheiro que se destina a inflacionar artificiosamente o valor dos activos já existentes e que apenas aumenta a riqueza de quem possui e de quem transacciona esses activos.
A revista Visão também noticiava há poucos dias que, «desde o início de 2009, o principal índice da Bolsa de Lisboa já subiu quase 40 % e, em relação a Março, quando bateu no fundo, os ganhos elevam-se a cerca de 55 por cento». Será que os milionários portugueses que estão a recuperar o que perderam vão investir na criação de empregos? Será que um desses milionários vai readmitir os 193 trabalhadores que já despediu?
O regresso da especulação financeira desenfreada, que esteve na origem da crise brutal que ainda estamos a atravessar em todo o mundo, significa que o «capitalismo de casino» está de volta. E o mais escandaloso é que foram gastos milhares de milhões em dinheiros públicos, não só para voltar a estimular a economia, mas também para evitar a bancarrota de inúmeras instituições financeiras privadas. E aquilo a que estamos agora a assistir é uma vergonha: enquanto as grandes fortunas, produto da especulação bolsista, estão a reconstituir-se rapidamente, o desemprego continua a crescer em todo o lado.
O G-20 aprovou uma óptima agenda reformista, mas a verdade é que tarda em reformar as grandes instituições financeiras internacionais e em impor novas regras que permitam um regulação mais rigorosa e eficaz dos fluxos financeiros a nível mundial. Quando acordar será tarde. A exuberância irracional já tomou conta disto outra vez.