sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Medíocres e mediáticos

A SUBIDA AO PODER de políticos medíocres e mediáticos, durante os últimos quinze anos, é um problema comum à Europa e aos Estados Unidos, que atingiu com particular força Portugal. Até já exportámos um deles para fazer uma triste figura na União Europeia.
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Trata-se de políticos ideologicamente descaracterizados e politicamente untados com a banha mediática (a antiga banha da cobra), cujo único objectivo é fazer carreira a todo o custo e aguentar no poder o tempo suficiente para consolidar contactos e cumplicidades de toda a espécie, tendo em vista «governarem-se» quando deixarem de ser Governo.
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No plano internacional, os casos mais exemplares de oportunismo político compensados pelo poder económico com «tachos» de se lhes tirar o chapéu, são Tony Blair e Gerhard Schroeder, arautos da «Terceira Via» que pôs a social-democracia europeia de rastos. À direita, só o muitíssimo reaccionário José Maria Aznar consegue rivalizar com eles.
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Por cá, como sabemos, só dão cartas os dois partidos que alternam no poder. E os casos mais mediáticos de oportunismo político, económico e social (a cultura não é para aqui chamada) são os dois mais famosos apparatchiks do «bloco central», que controlaram e manipularam os aparelhos do PS e do PSD e ocuparam cargos ministeriais estratégicos o tempo suficiente para consolidarem preciosas agendas de contactos e cumplicidades políticas cruciais que explicam hoje o seu papel de serventuários do poder económico.
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A actual «orgia» da nacionalização dos prejuízos de bancos corruptos ou irresponsáveis, enquanto o povo grama as aflições da crise e a classe média desce aos infernos, dá bem a medida da falta de pudor dos que estão no poder. A ausência de alternativas credíveis dá-lhes a ilusão do poder absoluto. Com arrogância, continuam a desmantelar o Estado com reformas injustas e a fustigar os cidadãos com políticas brutais. Durante quanto tempo mais estes «Catilinas» medíocres e mediáticos abusarão da nossa paciência?!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Governo mente descaradamente

A PROPAGANDA GOVERNAMENTAL insiste em que Portugal, comparado com os outros países, não está assim tão mal, porque os outros estão pior. Convém explicar que tal argumento, para além de revelar enorme cinismo e hipocrisia, não corresponde à verdade.
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Se tomarmos como termo de comparação a taxa de desemprego, constataremos que os números não confirmam – pelo contrário, desmentem – a propaganda governamental. É certo que Portugal não é o pior entre os piores, mas é igualmente certo que a maior parte dos países da União Europeia e da OCDE está bem melhor do que o nosso país.
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Entre Dezembro de 2007 e Outubro de 2008, a taxa de desemprego em Portugal subiu apenas (?) 0,1, passando de 7,7 para 7,8. Mas, tomando como referência aquele período, verdadeiramente pior só estão: a Espanha, onde a taxa de desemprego pulou de 8,7 para 12,8 (mais 4,1); a França, onde subiu de 7,7 para 8,2 (mais 0,5); e a Hungria, onde subiu de 8,0 para 8,1 (mais 0,1). Três taxas de desemprego mais altas do que a nossa.
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Todavia, são vários os países em que, apesar do aumento do desemprego durante aquele período, a respectiva taxa continua a ser inferior à nossa. Casos da Irlanda, onde subiu de 4,7 para 7,1 (mais 2,4); da Suécia, onde subiu de 5,9 para 6,6 (mais 0,7); do Reino Unido, onde subiu de 5,1 para 5,8 (mais 0,7); da Itália, onde subiu de 6,3 para 6,8 (mais 0,5); do Luxemburgo, onde subiu de 4,0 para 4,2 (mais 0,2); e da Noruega, onde subiu de 1,6 para 1,8 (mais 0,2). Melhor do que estes é que não estamos certamente.
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E bem melhor do que Portugal estão outros países onde a taxa de desemprego, em vez de aumentar, diminuiu durante o mesmo período. A saber: na Finlândia, baixou de 6,5 para 6,4 (menos 0,1); na Dinamarca, baixou de 3,4 para 3,2 (menos 0,2); na Suíça, baixou de 2,8 para 2,5 (menos 0,3); na Republica Checa, baixou de 4,7 para 4,4 (menos 0,3); na Holanda, baixou de 2,9 para 2,5 (menos 0,4); na Bélgica, baixou de 7,0 para 6,6 (menos 0,4); na Alemanha, baixou de 7,7 para 7,1 (menos 0,6); na Grécia, baixou de 8,0 para 7,2 (menos 0,8), na Áustria, baixou de 4,0 para 3,0 (menos 1,0); na Polónia, baixou de 8,3 para 6,4 (menos 1,9). E até na Eslováquia, onde o nível de desemprego é muito elevado, a respectiva taxa baixou de 10,4, para 10,0 (menos 0,4).
Já agora, convirá referir o que se passou, em matéria de desemprego, durante o mesmo período, em outros países não europeus membros da OCDE: nos Estados Unidos, a taxa de desemprego subiu de 5,0 para 6,5 (mais 1,5); na Nova Zelândia, subiu de 2,8 para 4,2 (mais 1,4); no Canadá, subiu de 6,0 para 6,2 (mais 0,2); na Austrália, subiu de 4,2 para 4,3 (mais 0,1). Já na Coreia do Sul, não subiu nem desceu, mantendo-se a taxa de desemprego nos 3,1; e no Japão desceu de 3,8 para 3,7 (menos 0,1).
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Perante este quadro geral de taxas desemprego da OCDE, percebemos que a propaganda do Governo é uma aldrabice. Tira partido da compreensível ignorância dos cidadãos em relação às estatísticas, para manipulá-las. De facto, se compararmos o nosso mal com o mal dos outros, estamos pior – e não melhor. O Governo mente descaradamente.

VI PAULO PORTAS NA TVI, sexta-feira passada, e fiquei impressionado com a forma como arrasou o Governador do Banco de Portugal, com documentos avassaladores e argumentos demolidores.

Em qualquer outro país democrático civilizado, um Governador do Banco Central não teria resistido a acusações tão bem fundamentadas e, por uma questão de decência, ter-se-ia demitido no dia seguinte.

Mas este País é o que é, o Governador goza da protecção do ministro das Finanças (aliás, tão incompetente como ele) e a ambos o Primeiro-Ministro põe-lhes a mão por baixo (como deus faz ao menino e ao borracho).

Curiosamente, o presidente do CDS/PP, Paulo Portas, é, neste momento, o único político de direita que dá sinal de vida e o único dirigente partidário que demonstra que a direita ainda mexe. O PPD/PSD, coitado, continua a pairar no vazio do discurso político incoerente, insensato e sem sentido da sua pobre presidente, Manuela Ferreira Leite.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Literacia financeira

A chave da crise do subprime numa peça inteligente do melhor humor britânico… A não perder.